A ditadura militar brasileira usou a censura como uma de suas ferramentas mais contundentes para controlar a produção cultural e ideológica do país. Assim, diversos tipos de expressões artísticas passaram pelo crivo de um Estado vigilante, que proibiu obras consideradas uma ameaça à manutenção do poder. Resumidamente, essa prática mirava narrativas que denunciavam a violência do regime, expunham contradições políticas e sociais ou ofereciam visões alternativas que estimulavam reflexão e pensamento crítico. Ou seja, entre os livros que a ditadura militar censurou estavam aqueles que exploravam temas como a repressão, a tortura, a violência e a desigualdade. Nos dias atuais, sob um regime democrático, essas obras são como pilares fundamentais da literatura e da memória histórica.
Durante os anos de repressão, a censura agia com intensidade para restringir as manifestações culturais que poderiam “corromper” o pensamento da população, especialmente os jovens e as classes estudantis. Nesse sentindo, a literatura, como forma de expressão reflete sobre o mundo, estava entre os principais alvos. Mesmo assim, essas obras sobreviveram e hoje representam um legado de resistência e coragem intelectual. Abaixo, deixo uma lista de livros que a ditadura militar censurou – e que você deveria ler! Apesar da tentativa de silenciamento, essas obras sobreviveram ao tempo e ecoam até hoje a urgência por liberdade de expressão e memória histórica.
Suas obras abordavam erotismo e homossexualidade feminina, sendo consideradas contrárias à “moral e bons costumes” da época. Entre os livros censurados estão: “A Volúpia do Pecado“, “Copacabana Posto 6“, “Eudemônia“, “A Paranóica” e o citado “Eu Sou uma Lésbica“.
A intensa perseguição levou Cassandra Rios à ruína financeira, forçando-a a fechar sua livraria e a perder praticamente todos os seus bens. Diante das dificuldades, ela passou a atuar como ghost writer e a colaborar com artigos e colunas em jornais. Para driblar a censura que recaía sobre suas obras, começou a publicar seus livros de teor erótico sob pseudônimos masculinos.
“Considerado um dos principais livros de Rubem Fonseca, “Feliz Ano Novo” reúne contos repletos de violência com uma linguagem precisa e contundente que veio a se tornar a mais significativa marca autoral do escritor. Uma dura crítica social numa obra que há quase quatro décadas se mantém atual e relevante, mostrando o motivo pelo qual Rubem Fonseca se tornou um dos maiores gênios da literatura de nosso país.”
“Capitães da Areia, a história crua e comovente de meninos pobres que moram num trapiche abandonado em Salvador, é talvez o romance mais influente de Jorge Amado. Clássico absoluto dos livros sobre a infância abandonada, assombrou e encantou várias gerações de leitores e permanece hoje tão atual quanto na época em que foi escrito.”
“Marcão e Ricardo vivem na pequena cidade de Canaviápolis com a mãe, que está grávida, e com o pai, que é jornalista. Durante uma partida decisiva de futebol de botão, o pai dos meninos chega em casa apavorado, contando que arrombaram a redação do jornal onde trabalha. Alguns dias depois, a família começa a receber ameaças pelo telefone e na rua. O jornalista e a mulher ficam preocupados, até que um dia o pai de Marcos desaparece. Com a ajuda de freiras, eles descobrem que o pai está na Bolívia e começam então uma verdadeira jornada no exílio, passando pelo Chile e pela França. Marcão e seus irmãos vão viver as aventuras da infância e da juventude longe de casa, durante o período do regime militar no Brasil.”
“De sua cela no presídio Tiradentes, o jovem paraense Renato Tapajós, escrevia os capítulos daquele que se tornaria um dos romances mais impactantes sobre a repressão durante o regime militar. Dobrado em pequenos retângulos envoltos em fita adesiva, o romance Em câmara lenta foi dessa forma sendo levado, aos poucos, para fora da prisão – pelos pais do autor, que os colocavam sob a língua, durante suas visitas.
Quando todos os pedaços puderam ser finalmente reunidos em um volume, o romance foi publicado em 1977, três anos depois da saída do autor da cadeia. No entanto, semanas depois do lançamento, Renato Tapajós, foi reconduzido à prisão sob acusação de incitar a subversão, e uma ordem policial determinou a apreensão dos exemplares à venda. O romance teve outra edição em 1979, quando a ditadura ensaiava uma abertura política, e só agora volta a ser publicado.”
Graduanda em Letras, habilitação Português, na Universidade Federal do Piauí. Criou a página https://www.instagram.com/literariane e indica livros — dos contemporâneos aos clássicos. Sempre anda com um copo de café na mão.
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