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7 livros que a ditadura militar censurou — e que você deveria ler

A ditadura militar brasileira usou a censura como uma de suas ferramentas mais contundentes para controlar a produção cultural e ideológica do país

20/11/2024 às 11h32
Por: Redação
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A ditadura militar brasileira usou a censura como uma de suas ferramentas mais contundentes para controlar a produção cultural e ideológica do país. Assim, diversos tipos de expressões artísticas passaram pelo crivo de um Estado vigilante, que proibiu obras consideradas uma ameaça à manutenção do poder. Resumidamente, essa prática mirava narrativas que denunciavam a violência do regime, expunham contradições políticas e sociais ou ofereciam visões alternativas que estimulavam reflexão e pensamento crítico. Ou seja, entre os livros que a ditadura militar censurou estavam aqueles que exploravam temas como a repressão, a tortura, a violência e a desigualdade. Nos dias atuais, sob um regime democrático, essas obras são como pilares fundamentais da literatura e da memória histórica.

Recentemente, o filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, traz uma reflexão sobre a importância da memória em uma sociedade. O filme toca em temas que também permeiam esses livros censurados: como o apagamento do passado nos deixar à mercê dos mesmos erros. Em suma, a película propõe uma imersão sensível na memória coletiva, mostrando como experiências individuais constroem o tecido histórico de uma sociedade. Primordialmente, é essa mesma luta pela memória que atravessa as obras literárias censuradas na ditadura e que as torna tão relevantes e necessárias hoje.

A literatura e a memória cultural

Durante os anos de repressão, a censura agia com intensidade para restringir as manifestações culturais que poderiam “corromper” o pensamento da população, especialmente os jovens e as classes estudantis. Nesse sentindo, a literatura, como forma de expressão reflete sobre o mundo, estava entre os principais alvos. Mesmo assim, essas obras sobreviveram e hoje representam um legado de resistência e coragem intelectual. Abaixo, deixo uma lista de livros que a ditadura militar censurou – e que você deveria ler! Apesar da tentativa de silenciamento, essas obras sobreviveram ao tempo e ecoam até hoje a urgência por liberdade de expressão e memória histórica.

Zero é um marco na história da literatura brasileira. E o que melhor descreve o que foram os nossos anos de chumbo. A Itália recebeu a primeira edição do livro em 1974, seguida pelo Brasil no ano seguinte. Nesta primorosa edição comemorativa, há depoimentos do autor, fac-símiles do original, reproduções das capas de todas as edições, iconografia de época e um documentário sobre as reações provocadas pelo livro.” 
O casamento, única obra de Nelson Rodrigues  escrita originalmente como romance, foi também o primeiro livro a ser censurado num Brasil sob a ditadura militar, em 1966. O governo viu um ataque à sagrada instituição da família brasileira onde, na verdade, o que havia era um retrato fiel de uma sociedade em franca decadência, como mostram os textos de apoio que Bárbara Paz e Paulo Werneck escreveram para esta edição. Por trás dos personagens — um pai de classe média alta, jovens descobrindo a vida e mulheres honestas —, escondem-se tragédias e desejos que retornam inesperadamente. Toda intenção politicamente correta numa realidade urbana à beira do abismo é demolida pela pena de Nelson, que lança luz sobre uma hipocrisia que nossa vista, por si mesma, é incapaz de alcançar.” 
Em Eu sou uma lésbica, Cassandra Rios narra as aventuras amorosas de uma lésbica dos anos 1960 e 1970, quando as mulheres “aproveitavam o Carnaval para usar calças compridas, camisas e gravatas, caracterizando-se de homem para melhor serem identificadas pelas outras mulheres, as passivas“. O conto foi publicado pela primeira vez em 1980, sob o formato de folhetim, na revista Status.”
O caso da escritora Cassandra Rios é bem mais complexo. Devido à ampla censura durante a ditadura militar brasileira, ela hoje é reconhecida como a escritora mais censurada desse período. As autoridades do regime proibiram 36 dos 50 livros publicados por Cassandra.

Suas obras abordavam erotismo e homossexualidade feminina, sendo consideradas contrárias à “moral e bons costumes” da época. Entre os livros censurados estão: “A Volúpia do Pecado“, “Copacabana Posto 6“, “Eudemônia“, “A Paranóica” e o citado “Eu Sou uma Lésbica“.

A intensa perseguição levou Cassandra Rios à ruína financeira, forçando-a a fechar sua livraria e a perder praticamente todos os seus bens. Diante das dificuldades, ela passou a atuar como ghost writer e a colaborar com artigos e colunas em jornais. Para driblar a censura que recaía sobre suas obras, começou a publicar seus livros de teor erótico sob pseudônimos masculinos.

“Considerado um dos principais livros de Rubem Fonseca, “Feliz Ano Novo” reúne contos repletos de violência com uma linguagem precisa e contundente que veio a se tornar a mais significativa marca autoral do escritor. Uma dura crítica social numa obra que há quase quatro décadas se mantém atual e relevante, mostrando o motivo pelo qual Rubem Fonseca se tornou um dos maiores gênios da literatura de nosso país.”

Capitães da Areia, a história crua e comovente de meninos pobres que moram num trapiche abandonado em Salvador, é talvez o romance mais influente de Jorge Amado. Clássico absoluto dos livros sobre a infância abandonada, assombrou e encantou várias gerações de leitores e permanece hoje tão atual quanto na época em que foi escrito.” 

“Marcão e Ricardo vivem na pequena cidade de Canaviápolis com a mãe, que está grávida, e com o pai, que é jornalista. Durante uma partida decisiva de futebol de botão, o pai dos meninos chega em casa apavorado, contando que arrombaram a redação do jornal onde trabalha. Alguns dias depois, a família começa a receber ameaças pelo telefone e na rua. O jornalista e a mulher ficam preocupados, até que um dia o pai de Marcos desaparece. Com a ajuda de freiras, eles descobrem que o pai está na Bolívia e começam então uma verdadeira jornada no exílio, passando pelo Chile e pela França. Marcão e seus irmãos vão viver as aventuras da infância e da juventude longe de casa, durante o período do regime militar no Brasil.” 

“De sua cela no presídio Tiradentes, o jovem paraense Renato Tapajós, escrevia os capítulos daquele que se tornaria um dos romances mais impactantes sobre a repressão durante o regime militar. Dobrado em pequenos retângulos envoltos em fita adesiva, o romance Em câmara lenta foi dessa forma sendo levado, aos poucos, para fora da prisão – pelos pais do autor, que os colocavam sob a língua, durante suas visitas. 

Quando todos os pedaços puderam ser finalmente reunidos em um volume, o romance foi publicado em 1977, três anos depois da saída do autor da cadeia. No entanto, semanas depois do lançamento, Renato Tapajós, foi reconduzido à prisão sob acusação de incitar a subversão, e uma ordem policial determinou a apreensão dos exemplares à venda. O romance teve outra edição em 1979, quando a ditadura ensaiava uma abertura política, e só agora volta a ser publicado.”

 

Graduanda em Letras, habilitação Português, na Universidade Federal do Piauí. Criou a página https://www.instagram.com/literariane e indica livros — dos contemporâneos aos clássicos. Sempre anda com um copo de café na mão.

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